Desafios na implementação do ensino médio

Por

Sérgio Porfírio

Diretor do Grupo Balão Vermelho

Sônia Barreira

Diretora pedagógica da Bahema Educação

24 de outubro de 2022

Os números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) retratam o tamanho dos desafios da educação no Brasil. O desinteresse dos estudantes, a evasão e a necessidade de investimento em equipamentos, materiais e formação de educadores são exemplos contundentes de causas e consequências da falta de articulação e interesse público para alavancar o que seria a saída mais viável para a desigualdade social de um país tão diverso e extenso.

O ano de 2022 foi marcado pela obrigatoriedade da implantação do novo ensino médio, proposta carregada de ações e intenções apontadas há anos por educadores como necessárias para a atualização e melhoria da educação no país, destacando o aumento da carga horária, a flexibilização curricular e a mudança dos processos avaliativos como pontos principais. A reforma, na complexidade do cenário educacional brasileiro, tem encontrado desafios, principalmente no que diz respeito ao processo avaliativo.

O ensino médio no Brasil é, historicamente, o segmento marcado como preparatório para a entrada na universidade, porém, em um país onde o número de vagas nas universidades públicas sempre foi muito inferior à demanda, essa função provoca uma acirrada concorrência para a entrada nessas instituições, criando um ambiente escolar competitivo e/ou desestimulante. Sendo assim, propor uma outra lógica avaliativa não se torna nada fácil, uma vez que o Enem e os vestibulares ainda ditam a lógica curricular e avaliativa da maioria das escolas, gerando, consequentemente, uma dicotomia na elaboração das propostas de trabalho e avaliação por parte dos professores, estudantes e famílias.

 “Afinal de contas, quais são os critérios de avaliação da 1ª série?”, questiona um pai na reunião inaugural do ano letivo com as famílias, quando o coordenador pedagógico apresenta a proposta de trabalho em duas frentes: as disciplinas da Base Comum Curricular (BNCC), com registro de avaliações quantitativas, e os Itinerários, com registros qualitativos. 

A inquietação do pai aponta para a necessidade, por parte da maioria das escolas, de construir uma cultura na comunidade, para além do ensino médio, que aumente o interesse em conhecer os currículos, a intencionalidade e as demandas atuais da educação frente às transformações sociais e econômicas. Sinalizando a importância de um ensino e avaliação por habilidade, competência e personalizada, abalando a tradição de uma educação competitiva, numérica e ranqueada.

Nos bastidores escolares, o desafio também é grande, uma vez que a maioria dos professores sempre atuaram avaliando seus alunos com notas, porcentagens e critérios exatos para aprovação ou reprovação. O momento é complexo e exige cuidado – alterar o processo avaliativo requer repensar concepções pedagógicas, práticas de sala de aula e currículo. E isso tudo demanda tempo e muito estudo. 

Os obstáculos para a implementação da proposta do novo ensino médio são diversos, porém não podemos perder de vista a potencialidade dessa proposta. Nisso, escolas construtivistas, de pensamento crítico, saem na frente, uma vez que visam ao protagonismo como princípio da formação de seus alunos. Essa frente permite entender melhor que cada estudante tem seu tempo de aprendizagem, e desenvolve habilidades e competências em níveis distintos, exigindo uma relação alinhada de intenções, práticas e avaliação.

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