Por Rubens Garcias e Ivana Brito | 01 de outubro de 2020
Neste momento único na nossa história contemporânea, o confinamento fez com que a rotina das famílias fosse reestruturada: home office, divisão das tarefas domésticas, distanciamento social e, em meio a isso tudo, o espaço da escola passou a confundir-se com o espaço das casas. Assim, impõe-se um novo desafio: como manter nossos estudantes ativos, interessados e protagonistas do seu próprio processo de aprendizagem diante de um cenário tão atípico?
No momento em que as aulas presenciais foram suspensas devido à pandemia da covid-19, começamos a pensar em estratégias de trabalho remoto que permitissem a interação, reiterando que é na troca que o saber se estabelece, não existindo simples uma transmissão de informações, mas uma construção coletiva do conhecimento. Apesar da distância física, organizamos horários síncronos por videoconferência, nos quais os alunos podem dialogar entre eles e com os professores. Propostas de aulas que, de alguma forma, movimentassem a participação dos alunos passaram a ser, mais do que nunca, nossa prioridade, pois sabíamos do tamanho do desafio. Assim, organizamos uma nova rotina de estudos que inclui, além dos horários síncronos, tarefas diárias, trabalhos em grupo, fóruns de discussões, projetos de pesquisa, momentos de reflexão sobre este momento único do mundo e de cada estudante como sujeito implicado nesse mundo. Mantemo-nos, ainda, abertos a reflexões acerca de possíveis ajustes que precisam ser feitos a todo momento nesta adaptação.
Todas as nossas propostas pedagógicas têm como objetivo, para além das competências e habilidades previstas pelo MEC, convocar os alunos a serem protagonistas do seu próprio processo de formação. Os maiores aprendizados nesses tempos de aulas remotas estão além dos livros. É muito importante aproveitarmos este momento para desenvolver autonomia, responsabilidade e diversas outras habilidades que nem sempre são rapidamente perceptíveis - talvez ainda demore um tempo até conseguirmos percebê-las -, mas que servirão para toda a vida, como:
Lidar com situações adversas e de desconforto com resiliência e disposição: a capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças é uma das habilidades mais preciosas que serão exigidas dos nossos alunos num futuro muito próximo.
Organizar uma nova rotina de estudos se comprometendo a investir nas propostas e cumprir os prazos de entrega estabelecidos: responsabilidade e compromisso são essenciais para a realização de qualquer atividade.
Trabalhar em grupo, participando de forma ativa, respeitando as discordâncias de ideias, exercitando a argumentação, a escuta e negociando as decisões: o trabalho colaborativo é uma exigência do mercado de trabalho.
Identificar os próprios desafios, traçando metas possíveis de serem alcançadas a curto prazo, avaliando e reavaliando o tempo todo o próprio percurso: o autoconhecimento e proatividade são ferramentas essenciais para superar obstáculos e avançar diante das dificuldades.
Cuidar de si mesmo e do outro: é fundamental que todos entendam que estamos conectados globalmente e por isso somos responsáveis por quem nos cerca e também por quem nem conhecemos, mas que também faz parte da comunidade em que estamos inseridos.
Formar um estudante autônomo e protagonista do seu próprio processo de aprendizado é um grande desafio e, em tempos de confinamento, quando os nossos estudantes estão longe fisicamente, esse desafio é ainda maior. Quando entendemos que esse processo não pode acontecer desconectado do mundo real e temos a consciência de que a formação de um aluno deve ser feita de forma integral, temos maiores chances de contribuir para o desenvolvimento de sujeitos críticos e agentes de transformação do nosso planeta.