por Sérgio Porfírio Diretor do Grupo Balão Vermelho | 29 de junho de 2022
Neste ano de 2022, as escolas estão implantando o Novo Ensino Médio (NEM) na 1ª Série do segmento. No Grupo Balão Vermelho, escola construtivista em Belo Horizonte, a estrutura do segmento é pauta de atenção desde sua implantação, quando os educadores já vislumbravam as mudanças. A primeira legislação que a educação brasileira é obrigada atende aos anseios antigos de muitos, principalmente no que tange à avaliação por competências, à flexibilização do currículo e ao aumento da carga horária tendo o protagonismo como elemento fundamental no processo de ensino/aprendizagem.
A BNCC - Base Nacional Comum Curricular, documento que publica para todo o país as competências a serem desenvolvidas em cada ano da escolaridade - é um instrumento indispensável para a elaboração das propostas do NEM. A construção curricular das escolas precisa de reformulação, elencando o que é básico, necessário e progressivo, deixando para o Itinerário Formativo, parte flexível do currículo, o que os(as) estudantes podem ampliar, aprofundar e aplicar a partir das suas escolhas.
Importante destacar que a BNCC não é o currículo e que as equipes pedagógicas das escolas podem construir o repertório tendo como base a realidade da comunidade escolar, os desafios locais e as perspectivas de intervenção dos alunos(as) nas problemáticas reais do planeta. Para contribuir na elaboração das propostas curriculares das escolas, os Conselhos Estaduais de Educação de cada estado fizeram uma releitura da BNCC, trazendo, além de identidade regional, discussões acerca de processos de ensino/aprendizagem e avaliativos.
No país que historicamente oferece um número de vagas nas universidades públicas muito inferior à demanda, o que consequentemente provocou uma acirrada concorrência para a entrada nestas instituições, a reforma faz um giro histórico na elaboração curricular. As escolas que ofertam o Ensino Médio, principalmente as tradicionais, que sempre tiveram como referência as matrizes dos vestibulares e o ENEM como eixo vertical da estrutura dos seus currículos, precisam repensar suas propostas, mirando uma educação com mais sentido e voltada para a transformação do planeta, tendo a entrada na universidade como mais um desafio e não como único propósito dos anos finais da educação básica.
Por parte dos alunos e alunas, a escolha por uma trilha de conhecimento ou eletiva, além de ampliar e flexibilizar os percursos, potencializa o lugar da escola como espaço de exercício e construção de autonomia. Do ponto de vista das ofertas, as escolas precisam construir escolhas que façam sentido para os estudantes e que lancem desafios que instiguem a intervenção dos mesmos no mundo a partir da sua realidade local e sua identidade.
A lógica do ensino e avaliação por competência escapa ao conteudismo e abre portas para a criatividade, mobilizando saberes, intenções e aplicações de conhecimentos na vida real, despertando ou consolidando o prazer pelo estudo. Esse movimento faz vacilar a ideia de que se estuda para construir um futuro potente e promissor apenas no mundo do trabalho e que as escolhas de agora precisam ser dirigidas exclusivamente para esse fim. A possibilidade de flexibilização e aplicação do que se aprende está relacionada às questões do presente, visando a realidade e o contexto de que o(a) aluno(a) faz parte, implicando sentido ao saber, promovendo transformações e consequentemente melhoria de vida. Assim, é importante pensar que, ainda que muitos apontem como “escolha precoce” a decisão por determinado percurso logo no ingresso do Ensino Médio, se a escolha fizer sentido no hoje, naquilo que o(a) estudante desejar no momento, ela não será precipitada. Tudo vai depender das ofertas e de como a eleição pelo(a) aluno(a) será conduzida.
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